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sexta-feira, outubro 21, 2011

Ética ou métrica?

Carlos César anunciou a sua decisão de não se recandidatar a um novo mandato em 2012, alegando que o fazia por uma questão de ética republicana e por estrito cumprimento da palavra dada.
A palavra dada não é algo que possa orgulhar Carlos César, desde logo, porque nestas coisas da política se há coisa que César costuma retirar é, precisamente, a palavra dada.
Mas vamos a essa coisa da ética republicana.
César diz que cumpre com a sua palavra dada, mas andou durante dois anos a marinar na decisão de se candidatar ou não. Primeiro deliciou-se com o atraso na publicação do Estatuto dos Açores, pensando que isso lhe dava algum argumentário jurídico para tentar mais uma candidatura. Depois esmerou-se como ninguém na candidatura de Alegre, num último esforço de ter em Belém quem achasse que essa coisa da limitação de mandatos de um amigo podia ter uma ou outra interpretação, mais dada à conveniência de ambos. Falhadas estas, lembrou-se que não seria fácil convencer que se podia candidatar e se valeria a pena mais uma briga institucional com Cavaco Silva.
E, de facto, não valeria a pena essa discussão. É aqui que a ética se casou com a métrica eleitoral. É que isto de andar um último ano sem dinheiro para os habituais folclores e devaneios eleitoralistas tem o seu preço estratégico muito bem medido!
Para quem invoca um estado de alma refém da ética republicana foram dois anos de intensa luta de valores para tomar uma decisão depois de alimentado um conveniente tabu presidencial.
Na verdade, feitas umas sondagens que nada garantiam numa eventual candidatura, e que, pelo contrário, podiam implicar uma saída pela porta pequena da política regional, César constatou então que o futuro já não lhe pertence e que tem mais gente lá em casa que precisa de um empurrão que garanta uma vida política. É aqui que surge mais uma questão de métrica em lugar da ética. Se alguém nos diz que é da ética republicana nomear um sucessor, percebemos logo que deve haver algo que nos está a escapar. E esse algo é a afirmação do sucessor, não o que foi nomeado, mas o hereditário, que na sombra vai palmilhando protagonismo no partido do progenitor. Nem numa monarquia se respirou semelhante ética travestida de métrica.
Convenhamos, invocar a ética que não conseguimos derrotar em sucessivos suspiros de sobrevivência política e, depois de invocada, aparecer com um sucessor por nomeação não é, de facto, ética, é métrica de sobrevivência política. São as contas de um rosário socialista em que, para salvaguardar o futuro da prole, há que ser imaginativo. Sacrifique-se, pois, o Cordeiro!

(publicado no Diário Insular e Rádio Graciosa)

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