Recentemente foram-nos dados a conhecer, num artigo de opinião do deputado Luís Henrique Silva alguns números relativos à ilha Graciosa.
Esses números impressionam os mais desatentos e os que embarcam em argumentos de uma qualquer novela da TVI, mas, quem se debruça sobre a realidade da ilha Graciosa, certamente, não ficou admirado com algumas revelações que os números trouxeram.
De entre os dados revelados existe um que tem o condão de nos mostrar inúmeras “verdades”. Estou a referir-me à percentagem de população que beneficia do Rendimento Social de Inserção (RSI), vulgo, rendimento mínimo.
Na Graciosa, 9,5% da população recebe aquele apoio social como complemento a uma vida assente no limiar da pobreza ou mesmo na pobreza extrema.
Após largos anos de aplicação daquele apoio social até dou de barato que aquela percentagem de beneficiários possa ter vindo a baixar desde que foi implementado. A isso não será alheio o facto de que quando o RSI começou, este ter sido amplamente usado na caça ao voto.
Mas, independentemente desse factor, estarmos numa ilha com pouco mais de quatro mil habitantes e termos cerca de 10% a viver naquele nível de pobreza, quando nos é apregoado constantemente um elevadíssimo sucesso das politicas governativas, há qualquer coisa que não bate certo, não é conjugável, e demonstra uma enorme falsidade em termos do discurso e da sua comprovação.
Por outro lado, escusado será dizer o quanto isto revela a outros níveis de desadequação do que é dito, com o que se vai passando em termos de coesão e de progresso económico.
E não acham estranho que ao fim de tantos anos e de tantos milhões anunciados, não se possam mostrar alguns números que, esses sim, reflictam uma melhoria das nossas condições de vida, alguma criação de riqueza ou sequer indicações de que se está no caminho certo? Não será estranho que, perante todas as grandes realizações que o governo faz gala quando fala da Graciosa, esta ilha continue a marcar passo, ou pior, a andar para trás, divergindo assustadoramente de outras ilhas deste arquipélago onde, por imposição da mãe natureza, estamos inseridos? E não será ainda mais estranho o discurso do “agora é que vai ser” com que nos bombardeiam perante o insucesso de uma política de betão e partidarização da sociedade?
É, de facto, só nos podemos indignar com tudo a que vamos assistindo de comodismo condimentado com um discurso de que muito se fez, e mais se fará.
A Graciosa precisa de outra atitude quer do ponto de vista da defesa dos nossos interesses quer do ponto de vista da implementação de verdadeiras políticas para a coesão, em que o betão seja um instrumento, não uma bandeira.
Na ilha Graciosa faz falta discutir o futuro, propor alternativas, opinar, ouvir, exigir e procurar alcançar o bem comum. Este espaço pretende dar um contributo. Não teremos sempre razão nem seremos donos da verdade, queremos apenas ser uma pedra no sapato da inércia, da falta de visão e imaginação, do imobilismo estratégico e da cultura do "yes man". Temos uma tarefa difícil, temos de partir muita pedra mas não nos importamos, o burgalhau é sempre útil!
sábado, março 24, 2007
Primeiro estranha-se …(publicado no Diário da Graciosa)
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