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Santa Cruz da Graciosa

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segunda-feira, julho 24, 2006

E a coesão? Ainda falta muito?


A ilha Graciosa atravessa um período da sua história e não se dissocia das restantes ilhas do Açores mas, pela sua especial insularidade, deve ser individualizada numa realidade que, apesar de parcela do todo, possui especificidades e características que a marginalizam.
Entendo a nossa realidade insular na perspectiva de que somos uma comunidade tendencialmente esquecida, e que caminha a passos largos para uma desertificação humana preocupante e indesejada. São os números do envelhecimento da população, a reduzida natalidade e a evolução do povoamento desta ilha que traduzem essa realidade.
Tenho ouvido constantemente, por parte de todos quantos interferem no nosso quotidiano, quer pelo seu papel de lideres, quer por serem estudiosos da nossa realidade, que é urgente caminhar para inverter a tendência que nos empurra para um cada vez maior isolamento e nos atira para esse buraco negro do pensamento político que encontra expressão na véspera de um qualquer acto eleitoral.
Não me vou debruçar sobre os transportes como vértice do problema pois ninguém de bom senso nega que este é o maior factor de constrangimento económico, mas abuso deste conceito de perspectiva económica, pois no actual quadro social Graciosense, a economia e o desenvolvimento são os factores de estímulo para um sucesso a médio prazo e para a sustentabilidade de uma existência digna e saudável para esta ilha e suas gentes.
Prefiro alertar para uma questão que, sinceramente, me canso de ver apregoada na boca de quantos usam o bem falar para atrair as simpatias desta gente.
Começo a achar fastidioso ver os anos passar e verificar que, muito do que se apregoa não passa disso mesmo, de simples pregões de uma qualquer venda da banha da cobra, para alimentar um quotidiano que facilmente se esquece.
É pois neste pressuposto, que devemos exigir àqueles que tanto propagandeiam o nosso futuro risonho que devem ter palavra, e concretizar com actos os desejos de uma comunidade que merece respeito e seriedade.
Refiro-me, neste propósito, da já famosa expressão “discriminação positiva”. Discriminar positivamente significa dar um tratamento diferente, para melhor, àqueles que, pelo contexto em que estão inseridos, necessitam de uma atenção diferente. São inúmeras as vezes que assisto ao banalizar deste termo sem ver qualquer resultado prático. Até, pelo contrário, inverte-se agora a situação, ou seja, com o decorrer do tempo, o facto de não ocorrerem medidas de descriminação positiva, leva a que estejamos a entrar já numa verdadeira discriminação, mas no sentido negativo.
Afinal, o que falta para percebermos quais os tipos de medidas que, discriminando positivamente, nos poderiam ajudar a caminhar para um maior sucesso económico e com ele uma maior estabilidade social? Bem, podia estar aqui a dar exemplos durante uma série de linhas, exemplos do nosso quotidiano, do quotidiano dos nossos empresários, dos nossos agricultores, dos nossos pais, mães, vizinhos e amigos. Mas o que importa é desenvolver este conceito o mais urgentemente, e passar à sua aplicação prática. Seja no apoio às famílias numerosas através de uma diferenciação dos benefícios fiscais, ou com uma catalogação de bens essenciais à manutenção do lar com o retorno do IVA, ou parte deste; seja com uma redução especial de IRC para a especificidade dos empresários de restauração, ainda que esta passasse pela sazonalidade a que aquela actividade está sujeita, mas pensando também na indústria hoteleira, estabelecendo uma relação entre essa mesma sazonalidade e as obrigações fiscais que o estado impõe ao contribuinte; mas pense-se também no preço da energia e no papel do Estado enquanto proprietário, o que não poderia ser feito em benefício da sociedade Graciosense? ou no preço do gás e dos combustíveis, pense-se também no sacrifício que é para algumas famílias ter os filhos a estudar até aos 18, 21 ou 25 anos, quantas medidas se poderiam aplicar para descriminar positivamente quem investe no futuro dos filhos.
Mas eu não queria mesmo entrar nesta linha de exemplos do que se pode fazer para ajudar a Graciosa, primeiro porque os exemplos são muitos, e também porque isso leva invariavelmente a descobrir o que se tem feito para desencorajar a fixação das gentes. E podia dar como exemplo o fechar de uma escola, porque sai mais barato. Já é tempo de sermos afoitos e pedir aquilo que nos têm prometido, já é tempo de sermos consequentes e lembrar que: de boas intenções, está o inferno cheio. É hora de perguntar: e a coesão? Ainda falta muito?

Nota: publicado no Diário da Graciosa

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