expr:class='"loading" + data:blog.mobileClass'>

Live Webcam SPOTAZORES

Live Webcam SPOTAZORES
Santa Cruz da Graciosa

Instagram

segunda-feira, julho 24, 2006

Tempo é dinheiro




Era bom, de vez em quando, pensarmos em números, na sua análise e nos erros da sua interpretação. Hoje gostaria que me acompanhassem num pequeno exercício de aritmética relativamente aos números que os nossos deputados que apoiam o Governo tanta gala fazem em apresentar quando falam da Graciosa.
Ouvi, por demasiadas vezes nos últimos tempos, aqueles que representam ou sustentam o actual Governo Regional, afirmar como uma grande obra socialista o investimento na Graciosa nos últimos anos. Apresentam sempre como exemplo a grande obra de consolidação do Porto Comercial da Vila da Praia e a obra da ampliação da Escola Básica e Secundária de Santa Cruz. Essas duas obras, dizem, terão importado numa quantia, em contos, perto de dois milhões. Com essas obras, dizem, investiram cinco vezes mais na Graciosa, numa proporção de valor por habitante, do que a média regional. Inúmeras vezes quem defende esta teoria do investimento per capita, ou, por habitante, cai no erro de também comparar esse milhão e tal de contos com os investimentos dos Governos anteriores ao do Partido Socialista.
Só quem aposta em iludir com os números pode fazer comparações como as que se têm feito.
Afirmam os apoiantes destas teorias que a obra de consolidação do porto comercial custou mais do que o próprio porto. Quando se ouve dizer isto de passagem, numa qualquer conversa de circunstância, tendemos a não dar importância, pensamos que a pessoa que o disse se enganou momentaneamente, mas, quando essas pessoas reafirmam essa comparação, sempre que se fazem ouvir, já temos de aprofundar o assunto e procurar o porquê de estarem sempre a rebobinar essa cassete.
O porto da Graciosa foi construído em 1989/90, nessa altura custou cerca de 800 mil contos. A sua consolidação recente custou cerca de 1 milhão e duzentos mil contos. Ora, o que se deve perguntar e analisar é o seguinte: aqueles 800 mil contos que custou a obra do Porto da Graciosa em 1989 quanto valeriam nos dias de hoje? É que, assim é que é correcto fazer as contas da comparação de uma verba dispendida no passado com uma verba actual. Se eu em 1989 com 1000 escudos comprava um determinado número de coisas, esses 1000 escudos hoje valem menos e compram muito menos coisas. Mas vou ser mais claro ainda, fui fazer as contas e procedi da seguinte forma: Procurei saber a taxa de inflação dos últimos 25 anos. A taxa de inflação é a percentagem de aumento dos preços ao consumidor, ou seja, se no ano passado eu comprava uma coisa qualquer com 1000 escudos esse mesmo objecto ficou mais caro este ano e eu precisaria de mais dinheiro para o adquirir, essa diferença é o valor da inflação. Pois bem, aplicada a taxa de inflação relativa ao valor pago pela obra do Porto da Vila da Praia, aqueles 800 mil contos gastos em 1989 equivaleriam a 1 milhão, 720 mil contos no final do ano de 2001. Interessante não é? 1 milhão 720 mil contos! Ou seja, eu não posso dizer que quando o porto foi construído se gastaram 800 mil contos e que em 2002 o seu arranjo custou 1 milhão e duzentos mil para depois fazer uma comparação desses valores, o que eu devo afirmar, para ser objectivamente correcto, é que, se o porto fosse construído em 2002 teria custado 1 milhão e 720 mil contos. Isso é que é a verdade dos números. Mas vamos lá ver esta realidade numa outra dimensão. Em 1980/81 foi construído na Graciosa um aeroporto, ou aeródromo como quiserem. Essa obra orçou à data da sua construção em cerca de um milhão de contos. Imagino que estejam já a perguntar quanto valeria hoje o milhão gasto em 1980? Pois eu fui novamente fazer o simples cálculo aritmético, confesso que não sou grande coisa na matemática, mas as máquinas de calcular não costumam dar erros. Pois bem, aplicada a taxa de inflação anual desde 1980 até 2002, o dito milhão de contos equivaleria em 2002 a 9 milhões e 900 mil contos. Impressionante! 9 milhões e 900 mil contos seria quanto custaria em 2002 fazer o aeroporto da Graciosa. Não, não estou a brincar, basta saber a taxa de inflação e fazer a conta que eu fiz, e façam-na várias vezes para terem a certeza de que não se enganaram, foi isso que eu fiz.
Esta é a desmistificação de quem propagandeia grandes coisas mas se esqueceu de fazer a comparação exacta e aritmética numa análise séria e sem complexos.
De futuro gostaria que se reflectisse um pouco mais antes de se dizer que as obras de hoje escondem as do passado, ou que o investimento dos últimos dez anos foi extraordinário. Somem-se a estes dois exemplos, o porto e aeroporto, as estradas, escolas, e outras tantas coisas, e depois faça-se a tal conta de gasto por habitante aos preços actuais. Assim sim, já poderíamos ter uma noção exacta da verdadeira extensão de dez anos de esquecimento a que fomos votados.
Acresce que nos últimos anos o dinheiro como que tem caído do céu. Muitos milhões têm sido transferidos para os Açores, coisa que não sucedia no passado.
Não estou aqui para defender o passado ou apenas para criticar o presente, o que me parece essencial é que, apesar de aparentemente terem sido feitas algumas obras de vulto nos últimos anos, isso ficou muito longe do que seria desejável para a nossa ilha, e é com pena que continuo a assistir a uma glorificação do pouco, fazendo-o parecer abundante e negando-se a evidência de que continuamos a ser esquecidos.
No passado também se cometeram erros e pagou-se por isso nas urnas. É a pensar no futuro que devemos agir, não continuar a desculpar 10 anos deste mau Governo Socialista, com o facilitismo de que a culpa é sempre dos outros. Cada dia que passa é mais um dia perdido!

INFLAÇÃO EM PORTUGAL DESDE 1980

1980 - 16.6 %
1981 - 20.0%
1982 - 22.4 %
1983 - 25.5 %
1984 - 29.3 %
1985 - 19.3 %
1986 - 11.7 %
1987 - 9.4 %
1988 - 9.7 %
1989 - 12.6 %
1990 - 13.4 %
1991 - 11.4 %
1992 - 8.9 %
1993 - 6.5 %
1994 - 5.2 %
1995 - 4.1 %
1996 - 3.1 %
1997 - 2.2 %
1998 - 2.8 %
1999 - 2.3 %
2000 - 2.9 %
2001 - 4.4 %
2002 - 3.6 %


Nota: usei a taxa de inflação do continente quando o correcto seria usar a dos Açores, mas as diferenças não seriam substanciais e tendo em atenção a comparação da inflação do continente e Açores desde 1993, acho que ainda seria mais impressionante…
( http://srea.ine.pt/Publicações/Anuais/Séries/1993_2003/Cap_12.pdf )
Nota: publicado no Diário da Graciosa

Sem comentários: