(artigo de opinião publicado hoje no Diário Insular)
De há uns anos a esta parte vem-se instalando uma crise
social sem precedentes nos Açores.
E não me refiro apenas aos últimos dois anos, coisa muito na
berra por via da austeridade "troicana".
A crise social dos Açores vem de antes dessa monumental
austeridade. E estou à vontade para o dizer pois já em 2009, aquando do
conhecimento de um estudo publicado pelo Banco de Portugal em que,
avisadamente, se afirmava que um quarto dos Açorianos vivia em situação de
pobreza, fiz questão de denunciar essa realidade que, entendia, devíamos ter em
devida conta, sob pena de nos aquartelarmos numa sociedade de mendicidade,
ainda que envergonhada, e na falta de soluções sustentáveis para fazer os
Açores sair da cauda dos indicadores de desenvolvimento social do país e, por
sinal, da Europa.
Um quarto da população, está bem de ver, são 25%.
Em resposta veio a negação por parte do Governo Regional. A
tese era simplista, a desculpa era a de sempre: Antes disso estávamos piores.
Como se o "antes disso" não fosse já fruto das opções tomadas na última
década em que se promoveu a insustentabilidade de um certo estilo de vida e em
que se fez os possíveis para "maquilhar" as situações de dependência
extrema em que muitos já se encontravam.
Na verdade, os dados da pobreza nos Açores não condiziam com
o sucesso aparente de uma governação baseada em grandes feitos, grandes obras e
grandes eventos. Milhões para aqui e para ali não se compadeciam com a
existência de um quarto da população a aparar as migalhas que caiam da mesa num
banquete de tantos feitos e opulência.
Entretanto chegou a austeridade do resgate do país, e com
ela o acumular de uma situação que, entretanto, se tornou insustentável.
Ficou fácil novamente passar uma mensagem de que a culpa
seria alheia e, vai daí, toca a mandar tudo para as hostes da República, e para
o governo "dos outros".
Entretanto, por cá, anuncia-se um corte, que se diz ligeiro
porque não atingirá nos próximos dois anos mais do que 10% de valor pago, e
imagine-se, atingirá "apenas" 25% dos visados.
A roupagem que vestiram a esse corte é a do rigor e
transparência!
Refiro-me, naturalmente, ao novo modelo de financiamento das
IPSS nos Açores, aprovado com a oposição de toda a oposição, e que irá cortar
financiamento em 25% das IPSS.
25%, está bem de ver, é um quarto das IPSS.
Ou seja, nos Açores, impor austeridade cortando 10% a um
quarto das instituições que têm de lidar cada vez com mais trabalho na
realização do famoso "Estado Social", tem cognome de rigor e
transparência.
Digam lá que não é uma bela máscara de austeridade!
1 comentário:
pois é. tens toda a razão.
já o disse anteriormente e sem papas na lingua: o governo deve ás ipss dinheiro de subsidios de turno e diuturnidades desde 2009. no caso que conheço, em particular, já nos devem 86 mil euros... e estou a falar de lares de acolhimento, a testa de ferro em primeira linha do estado social. se estes não são importantes e não devem ser pagos - trabalho que deve ser assegurado pelo estado e é feito por voluntarios gratuitamente, imagino o que raio queiram dizer quando defendem o estado social. pelo menos paguem os empregados e assegurem os protocolos!
RD
Enviar um comentário