(artigo de opinião publicado hoje no Diário Insular)
De há uns anos a esta parte vem-se instalando uma crise
social sem precedentes nos Açores.
E não me refiro apenas aos últimos dois anos, coisa muito na
berra por via da austeridade "troicana".

Um quarto da população, está bem de ver, são 25%.
Em resposta veio a negação por parte do Governo Regional. A
tese era simplista, a desculpa era a de sempre: Antes disso estávamos piores.
Como se o "antes disso" não fosse já fruto das opções tomadas na última
década em que se promoveu a insustentabilidade de um certo estilo de vida e em
que se fez os possíveis para "maquilhar" as situações de dependência
extrema em que muitos já se encontravam.
Na verdade, os dados da pobreza nos Açores não condiziam com
o sucesso aparente de uma governação baseada em grandes feitos, grandes obras e
grandes eventos. Milhões para aqui e para ali não se compadeciam com a
existência de um quarto da população a aparar as migalhas que caiam da mesa num
banquete de tantos feitos e opulência.
Entretanto chegou a austeridade do resgate do país, e com
ela o acumular de uma situação que, entretanto, se tornou insustentável.
Ficou fácil novamente passar uma mensagem de que a culpa
seria alheia e, vai daí, toca a mandar tudo para as hostes da República, e para
o governo "dos outros".
Entretanto, por cá, anuncia-se um corte, que se diz ligeiro
porque não atingirá nos próximos dois anos mais do que 10% de valor pago, e
imagine-se, atingirá "apenas" 25% dos visados.
A roupagem que vestiram a esse corte é a do rigor e
transparência!
Refiro-me, naturalmente, ao novo modelo de financiamento das
IPSS nos Açores, aprovado com a oposição de toda a oposição, e que irá cortar
financiamento em 25% das IPSS.
25%, está bem de ver, é um quarto das IPSS.
Ou seja, nos Açores, impor austeridade cortando 10% a um
quarto das instituições que têm de lidar cada vez com mais trabalho na
realização do famoso "Estado Social", tem cognome de rigor e
transparência.
Digam lá que não é uma bela máscara de austeridade!
1 comentário:
pois é. tens toda a razão.
já o disse anteriormente e sem papas na lingua: o governo deve ás ipss dinheiro de subsidios de turno e diuturnidades desde 2009. no caso que conheço, em particular, já nos devem 86 mil euros... e estou a falar de lares de acolhimento, a testa de ferro em primeira linha do estado social. se estes não são importantes e não devem ser pagos - trabalho que deve ser assegurado pelo estado e é feito por voluntarios gratuitamente, imagino o que raio queiram dizer quando defendem o estado social. pelo menos paguem os empregados e assegurem os protocolos!
RD
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