Nos últimos tempos, temos assistido a várias declarações por
parte do Governo Regional sobre a necessidade dos Açorianos adquirirem produtos
regionais como forma de incentivar a criação de emprego que tanta falta faz na
região.
Não podia estar mais de acordo com esta premissa. De facto,
comprar produtos açorianos promove as empresas e os produtores dos Açores,
disso não tenho dúvida alguma.
Some-se a esta verdade quase de "la Palisse", uma
outra que não pode deixar de ser tida em conta nesta equação: a notoriedade de
um qualquer produto de uma região só pode ser adquirida fora dessa região
quando consegue cativar os consumidores de onde esse produto é oriundo. É um
dos casos em que os "santos da casa", de facto, fazem milagres.
Nesse sentido, se ambicionamos, num qualquer dia, ver os
nossos produtos a singrar fora da nossa região é necessário, primeiro, que eles
tenham sucesso e sejam consumidos a nível regional.
Nisto só espanta o facto de se ter levado tanto tempo a
perceber esta lógica que é a base de qualquer promoção de produtos regionais. É
impensável que se queira que os produtos dos Açores possam vir a ter mercado lá
fora se não forem reconhecidos cá dentro.
Parece, portanto, que ao fim de muitos anos começamos a ter
uma lógica acertada em termos de poder ambicionar algum sucesso na criação de
emprego, por via da aquisição de notoriedade dos produtos dos Açores. Isto se
os Açorianos quiserem, de facto, consumir os produtos regionais.
Mas como estas coisas da boa vontade só funcionam se o
caminho a percorrer não estiver entupido de dificuldades, a vontade do Governo
Regional em que os Açorianos consumam produtos dos Açores só pode vir a dar
resultados, desde logo, se os Açorianos consumirem produtos dos Açores, mas
para que isso aconteça é absolutamente imprescindível que os produtos dos
Açores estejam disponíveis para serem consumidos.
E é aqui que o caminho começa a criar dificuldades e que as
boas intenções do Governo não bastam para que a estratégia de apelar ao consumo
de produtos regionais possa funcionar.
A realidade por vezes tem destas coisas: estraga uma boa
história e, o facto é que o mercado regional de produtos Açorianos não existe.
Simplesmente não é real que se possa adquirir produtos das mais variadas ilhas
por esses Açores fora. O mercado interno é ainda uma miragem, e apelar a que se
consumam produtos dos Açores não se pode bastar com o facto de se consumir
produtos locais apenas no local, neste caso na ilha, onde são produzidos.
Seja em que caso for, a verdadeira projecção dos produtos
dos Açores só se faz se os Açores puderem funcionar como um mercado por
inteiro, beneficiando do seu consumo em cada ilha dos Açores. Se já somos um
mercado pequeno, quando o dividimos em nove realidades não conseguiremos chegar
à criação de emprego e à internacionalização que se deseja com o consumo de
produtos dos Açores pelos Açorianos, ou seja, tudo isto só não serão
declarações bonitas de governantes inconsequentes se os Açorianos, quando vão à
compras encontrarem produtos dos Açores.
(Rádio Graciosa, Diário Insular, Açoriano Oriental)
Sem comentários:
Enviar um comentário